Entretanto
sugava com uma fome doentia o suco
como quem suga um amor acabado
chupava com uma sede voraz cada pedaço preso nos lábios
debatia-se a fome, essa fome faminta
que nos entropece o ser
nos deixando nus
vezes sem conta
dormente os lábios que machucam a pele da fruta
por uma obrigação constante do desejo
fustiga toda a boca na ação de aniquilar a peça
de forma a saciar essa fome carnal que alguém traz
entretanto
escorrendo o suco pelo queixo rasgado
misturando os cheiros de um prazer acabado
os olhos brilhantes
desejando mais, mais do mesmo
do mesmo pecado
do mesmo pedaço
do mesmo suco lambuzado
fervilham as fases, rosadas do calor
pelo apetite saciado
entretanto
nas mãos sujas, escorrem os sucos do fruto amassado
doce fruto que as lava por completo
deixando um rasto pegajoso de melaço
por toda ela escorre
a fome morte estampada no rosto
no rosto o prazer prevalece
prevalece sobre qualquer outra coisa
entretanto
há um silencio
a adorar o encanto.