domingo, 4 de novembro de 2007

Nota A Uma Amiga


Vai ser feliz

Larga esse olhar tão triste, tão parado

Solta essas assas

Presas por esses elos

Que colocas e sai

Vai ser feliz

Alguém te observa e sorri

E as lágrimas caem

De uma escuridão

Algo em ti, me faz crer que tudo parou

Até talvez a vida

Não foi para isto que vieste

Acredita, vejo grandes coisas

Grandes sorrisos

Anda sai, e eleva

Esse olhar às coisas mais belas

Alguém que te vê te ama

E eu sei

As lágrimas que deita são por te ver assim tão só em ti

Tão perdida em tuas trevas

Anda sai

Pois tu tens tanto ainda para ver

Esquece tudo o que foi

E vai anda viver

És um céu a querer cessar a chama

És um raio a não querer tocar o chão

Anda sai

E vai viver

Porque quem te ama também vê

O Antes e O Agora

Antes preocupava-me com a solidão
Com o achar e encontrar da tal peça que se parte
Hoje, já sei que nem sempre se encontra
Não é que não pense e me preocupe
Mas algo deixou de ser a tal urgência
Agora tudo é mais calmo
Mais simples
Já sei que por vezes não se tem
A metade que se perdeu
Por vezes a chama quebra em tantos pedaços
que se torna difícil juntar
Não vale a pena, ou talvez valha
Mas de que serve?

palavras soltas ao vento


Na profundidade do teu ser

Está o meu imerso num silêncio

No som das águas que passam

Está eternamente o repouso de um amor

Que tardou em nascer

Nas margens de um rio

Corre nosso sangue quente e frio

Em chamas a vala tudo leva

E o vulcão ainda dorme

Correm altas as nuvens negras

E o teu mundo não é meu

Trôpego consolo de coisa nenhuma

É no cansaço que queimo a pele

E na escuridão pressinto o gelo do frio

Vasto lago cinzento de tudo sem alma

Consolo de um oceano vazio.

Correm as águas sem rumo

Turvas como os meus olhos nos teus.

Estaca no peito como um cruz de prata e ferro

Vida sem lamento é o traço de desvio

Sangue que seca na margem de um pobre remédio

Luz que se vê numa névoa sem sombra

Ou coisa alguma

Profundo ser que me abala o espírito

Que me perde o sentido lógico do chão e do templo

Alma desenhada para me trazer o tal inferno

Remédio para uma cura já impossível

Amor que nega o sexto sentido da vida

Alma que foge sem corpo

Peito que sobe e desce e nada sente

És fogo que corrói e gela o sentimento

Tudo em segredo

Num mito de sexo e flagelo de luxúria.

Espera Tardia

Pintura: Gustavo Fernandes
-

Fala-me quando já não houver algo a dizer, para que em silêncio te responda, e tu me entendas. Pois por mais palavras que brotem de nossos lábios nada se entende... Talvez o silêncio dê a compreensão que existe no céu dos deuses.Acalma a tua alma, pois a minha sempre foi branda. Pequena faísca que nada queima.

Sentido Contrário Ao Trânsito


Hoje apenas quero ir contra o sentido lógico de tudo

Quero sair e caminhar sem preocupações

Quero sentir o vento passar quanto todo e tudo o mundo passa

E sorrir na passagem do tempo espaço

Quero absorver bem fundo o saber que não se sabe

E deixar passar a lógica amargurada

Quero ser o carro que corre na margem de um rio

Quero ser o peão que corre pela estrada

Ser aquele ser de destino trocado

Apenas porque hoje, não quero ser o normal estandardizado

Quero ser vida, a minha nas minhas mãos

Não uma água parada

Quero ir o mais possível à esquerda, porque nada tem de estranheza

Quero ser aquela pessoa a quem chamamos louca

Quero ser a vontade da diferença

Ser apenas alma levada

Quero estar no sentido contrário ao da estrada

Para quando passar ver rostos ou caras

Quero percorrer o horizonte contra a luz

E a favor da mesma

Quero ser a semente que sem nada cresce

Não quero ser o que todos são

Não quero fechar os olhos ao sonho

Mas sim à razão...

Quero correr no sentido contrário ao trânsito

E saber quem sou

e o que vejo.

Rebanho


Passas, sem o resto do rebanho
Fixas os teus, nos meus olhos

Nada temes.

Nada demonstras.

Se sofres, não o sei;

Se algo te mantém preso ao vazio, não identifico;

Se apenas existes, nunca o saberei;

Porque estás sempre longe,

Da minha tribo.

Quando por mero acaso,

A tua e a minha fonte se cruzam;

Sei-o, porque sinto-te o cheiro,

Mas se por mero acaso,

Nossos caminhos se mantêm distantes,

De ti nada vejo.

Porque és a ovelha que degenerou,

Não és preta, és malhada

Tens todas as cores, e formatos,

Sempre diferente ao que te é igual

Se por mero acaso

A minha lã se mesclar na tua

Somos dois estranhos momentos, num só.

E depois nada somos.

Porque não nos achamos.

Nem a nós, nem aos outros, nem ao rebanho

Não, por não querer

Mas pela teimosia do ser.

Entendes?

Se por mero acaso entenderes...

Deixa de ser tão teimoso!

Gelo nos Pés


Desço descalça pelo chão frio

Os pés já gelo, onde a dor não se sente...

Desço até ao limite

Desde o alto até ao fundo do vale

Condensa-se assim a vida

Ali perante tudo, vejo-me

Fria, pálida sem cor que demonstre vida

Tudo branco, pálido sem som, sem ritmo

Sem a tal vontade,

A tal que eleva o espírito...

Desço até ao vale, e sei onde estou

Tudo é familiar,

Como se nunca de lá tenha saído

Os pássaros já partiram

Agora restam as arvores já nuas

Sem folhagem, sem cor, sós e escuras...

O vale onde flores brotam,

Agora está nu, sem vida...

Parece morto, mas não está

Hibernação de alma

Tudo frio, tudo em gelo

Mantendo segredo, do quê?

Posso correr sem medo,

Este prado não me guarda nenhuma surpresa,

Sei-o tão bem, como a conta matemática mais fácil...

Sei-o tão bem, como o ditado mais fácil

Sei-o tão bem, como o mais simples pensamento...

Desço descalça a ladeira da virtude

Frio, gelo, e não sinto a pele

O olhar já está de um azul profundo

Não estou morta, apenas cega...

Iceberg de fraqueza que não se verga

Chato pensamento, que não me abandona

Mas deixa-me a nu...

Caminho pelo condensado gelo

Descalça sem sentir que o mundo irá florir...

Caminho...