segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Deixado ao acaso




Já não sorria, apenas olhava o chão sujo, por onde os seus pés passavam, pisando, pastilhas esmagadas pelos múltiplos pés que por elas iam impregnando mais um pouco de uma história de solva de sapato; papeis embrulhados por mãos mais ou menos usadas pelo tempo; bilhetes de lotaria sem prémio que um jogador mais frustrado deitara fora; pedras de calçada que escondiam tesouros entre cada uma das fendas que existiam pela rua estreita e velha.
Alguém perguntara quantos DNA's haviam por ali espalhados, alguém pergunta quantos pedaços de nós mesmos deixamos ao acaso, por essas ruas do planeta, imprimindo dados biológicos por todos os cantos de um Mundo. E nunca paramos para pensar no perigo que tal informação possa ter, nem na probabilidade de estarmos sem estar em algum sitio, seja ele qual for.
Um dia também ele, João, tinha estado num sitio, sem nunca ter estado; e por esse mesmo motivo, hoje deambulava à procura de si mesmo, de uma esperança, de alguém que lhe disse-se não estás louco ou demente, que afinal ouvia um erro de perícia, que afinal estava onde realmente dizia estar e não onde todas as provas indicam a sua presença... Mas isso não acontecia, parecia que nunca iria acontecer, por mais que andasse pelas ruas, à procura de algo que pensara perder, nas mesmas ruas que alguém dissera vê-lo, onde provas indicavam tal presença, mas onde o mesmo nunca tinha estado, a não ser cinco anos depois de ser acusado de fruto, depois de ter passado três anos numa prisão, onde ninguém se dignara ir vê-lo, nem levar um maço de cigarros, nada, todos se tinham voltado de costas, fingindo não saber seu nome, era ninguém.

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