terça-feira, 3 de março de 2009
Lá... No Palácio dos Cristais (Ilusions II -3 part)
Acordava lentamente, sem querer sair do sonho, onde me encontrava a mim, onde finalmente parava naquele nevoeiro matinal, onde tantas noites as minhas pernas se arrastavam até ver a mansão que sempre se desenhava à minha frente, e sempre aquela mão estranha me prendia e dizia “ainda não, é cedo… tem calma!” irritava-me aquela paz, aquela voz, aquela certeza, e a minha incapacidade de não chegar lá, de não chegar a casa. Eram noites de sonhos tensos, onde percorria um caminho de cimento que num piscar de olhos se transformava numa densa floresta, sem rumo, eram assim os meus sonhos, quando procurava algo que nem eu mesma sei o que era, por vezes sei que fugia de alguém, de algo, nunca se via nada, para além de arvores, folhas secas num chão de terra diferentes das que por cá existem, era como RedWoods que fica nos Estados Unidos, perto de São Francisco, era uma terra meio vermelha, mas sempre coberta de folhas e mais folhas, as arvores eram altas, tão altas que apenas os raios mais fortes atingiam o chão dando-me assim um luz para caminhar, lembro que passava horas a correr por aquelas folhagens, percorria altos e vales, uns maiores outros mais pequenos, até chegar ao vale, onde uma arvore jazia deitada, partida em duas metades, fazendo de ponte de margem a margem; e depois corria mais um pouco, passava um pequeno muro feito de pedras em formato rectangular, e no meio do nevoeiro, de sonho para sonho, aparecia então aquela casa enorme, a casa; uma alegria percorria o meu corpo, queria correr entrar ali dentro, não sei o porquê mas ali era onde me iria encontrar, mas sempre a mão de um alguém que sempre estivera ali mas eu nunca via, sempre aquele alguém me parava e dizia: “ainda não, tem calma”… Agora mais uma vez queria fechar os olhos e voltar ao sonho, que por algum motivo se tinha transformado naquela noite, já nada me parava, estava perto muito perto da porta, mas a sensação de estar a ser observada chamou-me à realidade.
Lentamente, lutando ainda para voltar ao mundo dos sonhos e fantasias, espreguiçava o corpo, tentava abrir os olhos para a claridade, mas voltava a fechar. Foi então que me lembrei, não estava só naquela manhã, o corpo quente de um outro alguém aninhava-se ao meu… Quase que solto um grito, mas contive-o, relembrei tudo da noite passada, do pequeno monologo que o meu companheiro de lençóis me tinha feito presenciar, até ao beijo, e depois nada porque as pestanas do peso do sono se fecharam e tenho a certeza que adormeci, ouvindo aquele homem falar, como era doce a voz, sensual, máscula e me fazia sentir algo estranho que ainda não tinha definição para tal efeito, mas iria descobri-lo.
Como uma gata, espreguicei-me, olhei-o nos olhos, com um meio fechado e outro meio aberto, na verdade era difícil acordar com tanta luz, tentava manter um ar serio, mas tinha acordado de bom humor, queria cantar e sorrir-lhe, mas mal conhecia o homem, iria pensar que era doida, se é que já não pensava, reuni-me de forças e tentando disfarçar a rouquidão matinal, disse num tom muito baixo “Bom dia!”. O rosto másculo, esboçou um sorriso tornando-se na obra de arte mais bela que já alguma vez vira à minha frente, era perfeito em todos os ângulos, e estava ali nos meus lençóis. Olhava-me de forma interessante. Como um lince, sem receio que lhe lesse pensamentos, sem medo, ali num desafio constante, isso fascinava-me…
Aproximou-se de mim com aquele rosto a formar um sorriso, lindo, alias magnifico, fechando os olhos lentamente, ficando eu paralisada chegou aqueles lábios carnudos e tornou a dar-me um beijo, desta vez lento, muito lento, mas um capaz de me tirar o fôlego e me colocar o corpo a tremer. Coloquei as mãos trémulas no seu peito de forma a faze-lo parar, assim que a humidade da sua boca entrou na minha esqueci qualquer possibilidade de o parar, apenas seguia calmamente os seus movimentos, o meu rosto ardia, o meu corpo tremia, e eu sei que cedia ao encanto daquele homem… Ganhava espaço em mim, eu já nada via, tudo ficava fosco, sem formas definidas…
Amparava-me com as suas mãos e braços, depositava-me novamente nos lençóis, sentia os meus cabelos cair sobre a almofada, o corpo dele caindo ligeiramente sobre o meu, a mexa de cabelo encaracolado dele caia sobre o seu rosto, fazendo-o contorcer o rosto numa careta traquina, que me fez rir; olhou-me nos olhos de uma forma tão profunda que me senti invadida por aquele lago escocês, todo ele era uma imagem de um real irreal…
“És minha! Sabes no teu íntimo, sabes que és minha!”
Os meus olhos tornavam-se enormes sempre que os arregalava. Olhava-o como se me tivesse a dizer uma barbaridade. Ele sorria. De repente começou a beijar-me o rosto com loucura, agarrou o meu rosto nas suas mãos, olhou-me e depositou então o beijo mais calmo e sensual que algum homem me tivera dado em toda a minha vida.
“Sinto que te conheço desde sempre, sinto que sempre fizeste parte de mim! Sinto-me completo, como se finalmente algo fizesse sentido. É agora que olho para ti que me vejo, entendes? Faz tudo sentido. Fazes sentido! Poderia pedir-te em casamento agora neste momento, e saberia que era o mais certo; mas não te quero pressionar, nem tão pouco assustar com tudo. Apenas te posso dizer, a tua e a minha vida vão mudar radicalmente. Se não estiveres preparada estarei aqui. Nunca te esqueças estarei sempre aqui.”
Abraçou-me, apertando o meu corpo ao dele. Sentia o bater do meu coração e o dele quase que junto, por mais tolo que fosse, era como se ambos estivessem a comunicar. Magoava-me os seios tal aperto que não havia forma de se tornar mais suave, mas ao mesmo tempo queria que me mantivesse assim durante mais tempo, tão junto que sentia todas as palpitações do seu corpo. As pernas grossas e musculadas, prendendo as minhas, os pequenos pelos fazendo cócegas na minha pele; toda a masculinidade comprimida contra o meu corpo, fazendo-me corar, sempre que um movimento o tornava mais próximo de mim, as costas largas rígidas que me mantinham ali cativa, o calor do corpo, as pequenas gotas que se formavam no seu pescoço, provocadas pela minha respiração, os braços fortes que me amparavam o peso do corpo, as mãos grandes, de finos dedos compridos, que me ardiam a pele com o seu toque, o olhar que me penetrava a alma, os lábios que encontravam os meus com uma facilidade cada vez maior, e o bater do coração no meu bater do coração. Se acabasse ali o Mundo, o meu ficaria para sempre preenchido por aquele momento.
“Estou confusa com tudo! Não sei o que pensar. Apenas sei que já te vi antes…”
“Eu sei. Onde me viste!”
A cada palavra e frase tentava limpar a garganta, que estava presa, moca, lenta, adormecida, atordoada, estava como eu, com reacções fora do normal, com vontades que nem eu mesma compreendia… Era o caos a formar-se mente mas uma paz enorme com a certeza que tudo estava no sitio certo. Era como se uma janela enorme, até podia ser uma parede daquele Palácio de Cristal, se abrisse e tudo aquilo que se procura de repente estivesse ali, sem ser preciso pagar, pedir, replicar, nada… Estava ali o tudo e o nada, era como se de repente a Terra tivesse os seus dois pólos em contacto, juntos, mas sem que isso perturbasse qualquer coisa no resto do Mundo, era tudo tão estranho e absoluto… Nada se entendia nem explicava, mas estava tudo como sempre deveria estar, era como se um plano estranho fizesse finalmente sentido…
Baixei os olhos para não encarar os dele, e não ver o seu ar de troça.
“Diz-me, onde foi que me viste?” _ Dizia-me com a voz mais suave que alguma vez ouvira num homem, pegava o meu queixo na sua mão, e colocava os olhares colados… “Amor, diz-me…?”
“Nos sonhos… E… Em algumas visões estranhas que não sei definir… Mas sei que eras tu, eras tu…”
Sem conseguir controlar uma lágrima rolou pelo meu rosto, sendo perseguida pelo dedo indicador dele, chegando aos meus lábios humedecidos pelo salgado murmúrio do choro.
“Nada entendo!” _ um pranto de dor ecoava dentro de mim, e sem o controlar deixei que se soltasse ali… Todo o meu corpo tremia as lágrimas intensificavam-se… As minhas mãos procuravam o seu corpo, de forma a ter toda a sua protecção, sentia-me uma menina que precisa do apoio dos pais para ultrapassar alguma fase da sua vida, sentia-me nua, exposta, frágil e ao mesmo tempo que não queria dar parte fraca, também não queria que ele desaparecesse, queria-o ali. Mais do que isso, precisava dele ali. Ali e bem mais do que isso, precisava dele na minha vida…
“Abraça-me! Por favor!”
“Nunca te deixarei… Minha magnólia em flor!”
Sorri, pela atribuição.
Havia à entrada da porta um ramo enorme cheio de magnólias que deitava um cheiro intenso mas bom por todo o Palácio correndo também pelo jardim.
“Quem és tu?”
“Sou aquele que te tem procurado sem achar, sou aquele que tens visto sem ver. Sou eu querida, sou o motivo de estares aqui. E tu o meu. Agora não chores, sei que te dói, eu mesmo quando olhei para ti na porta de entrada da casa da minha avó, também a mim me deu vontade de chorar, agarrar-te nos meus braços, como agora, beijar-te e fazer-te minha. Mas contive tudo isso… Não te queria assustar. Sei que é confuso…”
“Sim, é…”
“Eu sei, querida! Desculpa se de alguma forma te faço sofrer… És livre de fazer o que quiseres, no momento em que me mandes embora, sairei… Nunca mais me verás. Mas deixarei que sigas a tua vida eu seguirei a minha, de uma ou outra forma… não levarei a mal, por vezes, não é possível que aconteça ou melhor, a nossa vida molda-nos de forma diferente que depois não dá para nos englobarmos na vida de outra pessoa. Ai que confuso, o que quero dizer é que se por algum motivo me quiseres longe, assim o farei.”
“Não te quero longe, só quero entender.”
“Isso, é fácil, com a minha ajuda saberás.”
“Sabes sempre tudo?”
“Ahahahaha, sei que te vou amar a cada lufada de ar que eu e tu tivermos juntos, sei que te amarei mesmo tendo-te longe. Sei que se ficarmos juntos iremos descobrir muitas coisas, coisas que nem eu nem tu imaginamos saber, mas que fazem parte de ambos. Sei também que tu me irás amar sempre, mesmo que me mandes embora.”
“Como sabes?”
Fitou-me nos olhos fazendo com que uma vertigem entrasse pela minha espinha dorsal fazendo o corpo contrair-se. E o dele apertou o meu mais uma vez…
“Quero fazer amor contigo flor! Mas também quero que o queiras e desejes da mesma forma… Neste momento nada me prende de te ter, mas não quero que seja assim… Vou dar-te um beijo, e sair do palácio, vou até casa tomar um banho, vestir-me e depois voltarei para te levar a um sitio.”
“Que sitio?”
“Sabes, por vezes fazes beicinho como os bebés. Acho piada ao teu rosto. À forma como acordas e sorris mesmo de olhos fechados, como durante toda a noite procuras o meu corpo e te aninhas a ele. Gosto especialmente do modo desafiante como me olhas, não tens medo de mim, pois não?”
“Não! Absolutamente, não tenho motivos para te temer.”
“Ahahahaha, também gosto quando arrebitas o narizinho de forma provocante, como o fizeste agora. Não és mulher de ter medo. Mas cuidado com os teus olhos…”
“Sim… Tento ter cuidado com eles. Mas nem sempre consigo.”
“Eu sei! Também me acontece…”
“Sim, também te acontece, eu sei!”
“Sabes porquê?”
Enterrando a cabeça na almofada branca, respondia à questão.
“Flor, assim não entendo nada.”
“Então sente o que te digo.”
“Desculpa…”
Olhei-o, testei-o, confesso que queria uma prova de algo que se fermentava na minha mente, não mexi os lábios apenas o olhei fixamente. Com toda a força que tinha emiti mensagem.
“Sentirei sempre, nem precisas fazer tanto esforço.”
“Quem és tu? Que me persegue desde sempre?”
“Sou a tua metade, o teu complemento, o teu infinito amor.”
“Porquê só agora?”
“isso não sei, saberemos os dois juntos…”
Nenhuma das frases tinha sido proferida, alias o único som era o som das conchas que estavam penduradas perto da grande janela, servia de espanta espíritos, quase sempre tocava uma melodia…
Nenhum dos dois tinha movido os lábios… Olhavam-se mutuamente, como se os dois tivessem a conversar mil e uma historias, ou a combinar algo em segredo. Até um dizer algo.
“Fica aqui mais um pouco!”
“Se aqui ficar, não resistirei… E faremos amor, não quero que seja assim, tens que saber quem somos, descobrir o que eu já sei. Querida, é-me difícil deixar-te aqui, é-me mais difícil não te tomar da forma que anseio, mas tudo a seu tempo. Apenas sabe uma coisa, Amo-te desde há muitos anos, antes mesmo de termos vida, sempre te amarei… Mesmo se um dia outros braços te tiverem serei eu que no mais profundo do teu ser habitarei, assim como tu no meu.”
“Fica…”
Sorriu para mim. Despenteou-me um pouco mais o cabelo que precisava urgentemente de um trato.
“Então fazemos assim, tomas banho, enquanto preparo algo para comermos, tenho fome e tu deves ter também, depois vens comigo até casa da avó, de seguida vou mostrar-te uma pequena lembrança que te poderá ajudar. Concordas?”
“Sim.”
Dei-lhe um beijo brusco, em forma de agradecimento, saltei da cama como uma pequena tempestade, balançava o corpo esquecendo que tinha ali o estranho mais íntimo da minha vida. Peguei no roupão, e dirigi-me para a casa de banho, coloquei a agua a correr para que ficasse quente, ali a água quente demorava mais tempo, eram necessários os tubos aquecerem e só depois me atrevia a tomar banho ou duche, se fosse verão arriscaria um banho de agua fria, mas como o tempo estava frio era melhor não o fazer… assim que a água aqueceu, entrei para a banheira usufruindo de um duche quente, tinha o corpo tenso, rígido e dolorido, só agora dava conta, possivelmente do peso do corpo dele, ou então por toda a tensão das ultimas horas, tinha saído para procurar conforto e sair do Palácio e tinha encontrado ainda mais um beco onde a saída não se vislumbrava, ou pelo menos na minha mente estava fragmentada em vários pedaços sem os conseguir encaixar, coloquei o rosto por baixo do torço de agua que o simpático cano me dava, deixava que me limpasse e esperava que também a alma fosse limpa, caia em jarro morna, levei as mãos ao rosto, sentindo a suavidade da pele, peguei na luva de cor violeta e macia coloquei-lhe o gel de duche com cheiro a coco, passando-a depois por todo o corpo, de cima para baixo, deixando a pele limpa e hidratada, sem querer dava por mim a acariciar o próprio corpo, o rosto era percorrido pelos pequenos dedos, que deslizavam para o pescoço enchendo-o de espuma, desciam lentamente pelos ombros acariciando a pele preenchendo o tecido com a branca espuma, acariciavam os seis redondos e fartos, fazendo movimentos circulares, excitando-os, desciam pelos braços e subiam novamente, voltando aos seios, percorriam o corpo de cima para baixo e de baixo para cima, como se num compasso de musica, em movimentos descendentes chegavam às coxas massajando-as deliberadamente a esponja violeta passava o seu creme de bolhas pelas nádegas em movimentos circulares, fazendo com que a cada circunferência feita fossem descendo mais, caindo depois no vale do desejo… Dei por mim mergulhada em desejo. Satisfazia-me ouvindo o cantarolar do homem mais excitante que alguma vez aquele Palácio vira em toda a sua existência, satisfazia-me pensando nele, desejando ser as suas mãos a acariciar e não uma esponja violeta ou de qualquer outra cor… A água corria, o som misturava-se com o som da voz que me enlouquecia atingia um estado cataléptico de êxtase, o corpo reagia a cada toque, como se fossem as mãos dele a tocarem cada parcela de pele, as pernas cediam ao prazer, tremia, até soltar um gemido agudo que calou a voz do homem… De seguida tentando controlar as contracções calava também eu a minha boca, com medo que me ouvisse, com receio que o meu corpo não respeitasse a minha privacidade, com medo que mais um grito de puro desejo saísse por aquelas paredes e me expusessem daquela forma, tentei acalmar, mas mais um gemido saiu, pela primeira vez estava a ter um orgasmo e não o saberia conter. Que vergonha, pensava para comigo, nervosa por não saber se ele ouvira ou não. Embaraçada. Sentindo-me mais mulher que nunca. Mas sem saber como sair dali, ou se conseguiria sair…
Escorregava o corpo na banheira deixando a água cair sobre o meu corpo, nu e trémulo. Queria acalmar. Nisto, sem aviso prévio a porta abre-se, assustada olho para a imagem, do homem na sua entrada, ali mostrando toda a sua virilidade, olhando na minha direcção.
“M… m… mas…”
Sem nada dizer pegou-me nos braços, coloquei os braços em redor do seu pescoço e deixei que me levasse…
Colocou-me em cima de um lençol estendido no chão, que antes não estava ali, tomou-me o rosto nas suas mãos, beijando-o a cada centímetro. Olhou o meu corpo nu sobre o lençol, olhou-me nos olhos.
“Agora é tarde para voltar atrás.”
“Tarde?”
“Sim…”
Beijou cada canto do meu corpo sem esquecer um único pormenor.
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Entre linhas, piscadelas nocturnas ao conhecimento... Como é belo o ser diferente dos banais, triste a curva da vida que acaba tão cedo....
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