sábado, 14 de fevereiro de 2009

Lá... No Palácio dos Cristais (Ilusions II)



A luz da Lua desenhava a minha pele, como se eu fosse uma tela onde o desenho era criado pelos astros. Entravam de todos os lados as tintas com as quais faria a sua obra em mim. Apenas semicerrava os olhos e deixava que me tomasse sua pela noite… Conseguia ouvir o murmúrio suava do ar que nos vidros tocava uma melodia divina, era como se pequenas conchas tocassem no interior do meu castelo, a luzes que vinham da mão da Lua e das Estrelas espreitavam por cada pedaço de cristal, criando uma dança mágica de brilho e cor, eu transformava-me aos poucos num vitral único. Passava horas assim, a criar com a mente momentos de uma harmonia sem fim… Ora era uma tela, ou uma poesia, uma escultura nas manhas em que os meus contornos em cada pedaço daquele céu se manifestava e se reproduzia em mil e uma mais figuras minhas; ou era uma sinfonia, ali nenhuma obra ficava inacabada, ninguém perdia a orelha, ninguém enlouquecia entre tais miragens, era só eu a Lua e as Estrelas, por vezes a minha voz soltava o grito e acompanhava o som do ar que viajava de lado a lado; nos dias de tempestade porém, o medo de algum se quebrar e me quebrar nascia, mas não nunca aconteceu. Diziam os habitantes da terra, que ali estava segura, em cada canto de cristal estava uma fada, no centro de cada quadrado, triangulo, rectângulo ou uma outra forma geométrica estava um anjo, em cada cruzamento de madeira um pentagrama circunferencial, em cada porta ou janela desenhado a ouro o número sete, e depois ainda havia outra coisa, toda a estrutura era feita na forma de kabalah, em 200 anos nunca nada deixara cair sequer um dos mais finos vidrinhos que me rodeavam dia e noite, nunca! Confiava assim na profecia das palavras… Não estava ali senão para Amar o Mundo, se é verdade que todas as estrelas do céu estão em todo o lado, então amando cada astro amava também cada ser humano, o Sol, a Lua, e depois tinha sempre algo mais, a cada saída daquele museu, tinha uma longa e vasta passadeira feita de ervas macias, e tinha a Terra a beijar-me os pés, o chilrear os pássaros a darem-me os bons dias todas as manhãs, tinha a fruta das arvores, os troncos grossos aos quais me abraçava constantemente, tinha assim as mais puras formas da palavra AMOR. Estava ali por um motivo, mas esse nunca o desvendava, sabia o que queria, queria algo indecifrável, talvez quisesse apenas aquele estado de alma, talvez tivesse um plano, talvez…
Uma noite, distraidamente, adormeci ali com mais uma criação cósmica como lhes chamava. Acordei de um sonho estranho, havia um rosto quase colado ao meu, um rosto que nunca tinha visto, uma presença já sentida em tempos, quando ainda estava longe do castelo de cristais, desta vez aquele rosto tocava já o meu, de uma forma tão definida, que me assustou como se um pesadelo tivesse por ali entrado. Assim como nos piores sonhos que se sonham acordei com o coração a palpitar num compasso de angustia, uma agitação quase doentia, uma vontade maior que o meu próprio tamanho, uma vontade tão grande de algo que a própria vontade não sabia dizer o que era que queria… Um banho rápido, um beber de água fresca, um olhar no espelho, e ver o mesmo rosto reflectir-se perante o meu, agora já não dormia ou sonhava, era algo nitidamente ilusório, mas capaz de me manter assim num estado estranho onde o racional não existia. Não dormi mais… Tinha que falar com alguém da aldeia, que me desse a entender o que se passava, várias historias haviam do local, mas eu tinha visto bem fora do sonho, podia ser sugestão sim, mas tinha que sair um pouco do Mundo onde os cristais tomam muitas formas…
A imagem tornou-se real, assim que a porta da senhora Omisha se abriu! Era o mesmo rosto, o mesmo rosto que abria a porta à qual eu mesma tinha tocado esperando encontrar um outro alguém que não aquele. Também o rosto mostrou o mesmo que penso ter o meu mostrado, como se ambos os rostos já tivessem algures se encontrado. Estranhamente não éramos estranhos, nem tão pouco conhecidos, mas conhecíamo-nos. Ainda nos tentou apresentar a senhora Omisha, mas como se apresentam duas almas que se conhecem melhor que qualquer outra pessoa? Como se apresentam reflexos do mesmo cristal? Como se apresenta a Lua ao Sol? A Onda ao Mar? A Terra às Raízes? Como se apresentam a Noite e o Dia? Se tudo isto são reflexos um do outro, se todos eles se tocam, se mesmo sendo opostos se alimentam do mesmo e se conjugam… Era assim que me sentia ali perante o estranho conhecido.

To Be Continued…

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